07/06/2011

O LEÃO RUGIU, QUEM NÃO TEMERÁ?

O Leão rugiu, quem não temerá? O Senhor, o Soberano, falou, quem não profetizará? (Amós 3,8)

Prª Odja Barros
Tendo em vista que os batistas brasileiros celebram no dia 12/06 o Dia do Pastor, quero trazer à memória dois testemunhos, duas histórias, duas vozes proféticas e pastorais que ressoam como o rugido do leão até dos dias atuais.

A primeira delas é a do pastor-profeta Amós. Amós não é um profissional da profecia, como havia naquela época, e também não partiu dele a decisão de profetizar. Sua atividade profética provém unicamente de uma escolha divina, chamado a deixar suas raízes e enfrentar a fúria dos reis, sacerdotes e profetas da capital Jerusalém. Amós certamente teve medo. Sua missão não era das mais fáceis, mas mesmo assim ele disse sim. “Ruge o leão, quem não temerá? Fala o Senhor, quem não profetizará?”. Deus é quem fala, Amós empresta sua voz, como um eco – Deus é o leão, Amós é um porta-voz de um Deus contrariado, que já não tolera a situação de injustiça. Por isso a palavra incomoda tanto quanto o rugido de um leão. O profeta sabia, graças a sua experiência de pastor no campo, que o rugido do leão aterroriza, pois anuncia que está chegando para agarrar sua presa. E esta não tem escapatória: será devorada. Assim também o julgamento de Deus sobre Israel se aproxima e não há meio de evitar. A voz do profeta Amós foi uma das vozes proféticas mais fortes que inspiraram e têm inspirado líderes/pastores/as e movimentos cristãos de luta pela justiça.

A outra voz que quero trazer é a do pastor batista Martin Luther King Jr., considerada a voz profética do século XX. Nenhuma voz inspirou tanto movimentos de libertação e justiça que a voz de King. Ele falava com a paixão e a poesia dos profetas bíblicos. Martin Luther King Jr. era antes de tudo um homem de fé, um pregador do Evangelho de Deus, um pastor que acreditava não somente na ressurreição do corpo espiritual, mas também na difusão dos ideais de liberdade, direito e justiça do reino de Deus. Em pleno auge da segregação racial, ele pregava uma esperança universal em um novo estado de justiça e misericórdia por meio do poder da verdade e da não-violência. 
Verdade que buscava unir homens e mulheres, de toda raça, cor ou religião como irmãos e irmãs. A verdade do amor que acreditava que os conflitos do mundo se reconciliariam sem violência no poder do espírito humano. Sua voz rugia como a de um leão anunciando o sonho de que todos os seres humanos seriam iguais na sociedade como são diante de Deus. Sua voz deu início ao maior movimento por direitos civis da história mais recente do Ocidente.

No seu último sermão proferido em Memphis, no Tenessee, às vésperas do seu assassinato, ele dirigiu as seguintes palavras aos pastores presentes: “De algum modo, o pastor deve guardar um fogo em seus ossos e, sempre que a injustiça se revelar, ele deve se manifestar. Tal qual Amós, o pastor deve dizer: “Quando Deus fala, quem não profetizará?” E, novamente como Amós, o pastor deve dizer: ‘Que a justiça corra como as águas, e seja a virtude uma corrente poderosa’. Como Jesus, o pastor deve dizer: ‘O espírito do Senhor repousa sobre mim, pois ele me enviou para levar boas novas aos humildes’” (proferido em 03 de abril de 1968).

Que essas vozes possam continuar rugindo e nos desafiando como pastores e pastoras.


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