Pr. Paulo Nascimento
Se os nossos atuais padrões de masculinidade são absolutos e inquestionáveis, então José do Egito foi um Zé Mané, um otário, um vacilão, um brocha. Porque enquanto nosso “homem padrão” é um pegador, um garanhão, que tem sua masculinidade reforçada a cada mulher com quem transa, José de Egito dispensou as investidas da mulher de Potifar em nome de sua fé em Deus (Gn 39,7-23). José do Egito não era homem?
Se os nossos atuais padrões de masculinidade são absolutos e inquestionáveis, então David e Jônatas foram duas aberrações. Porque enquanto para nosso “homem padrão” torna-se suspeito ter relações de profundo afeto junto a outros homens, o texto bíblico afirma que a relação de afeto entre David e Jônatas era mais profunda do que o amor deles por muitas mulheres (1Sm 20,1-29). David e Jônatas não eram homens?
Se os nossos padrões de masculinidade são absolutos e inquestionáveis, então o pai do filho pródigo foi outra aberração. Porque enquanto nosso “homem padrão” tem que ser frio e calculista na hora de disciplinar os filhos rebeldes, sua atitude frente ao filho mais novo é típica do que esperamos das mulheres: ele espera incansavelmente pelo filho errante todos os dias na porta de casa, acolhe a este sem julgar seus pecados, quando o avista de longe sai correndo ao seu encontro sem se importar com os julgamentos alheios, e o recebe com uma festança (Lc 15,11-32). O pai do filho pródigo não era homem?
Se os nossos padrões de masculinidade são absolutos e inquestionáveis, então o próprio Filho de Deus foi uma completa aberração. Porque enquanto nosso “homem padrão” tem que se casar, tem que ter emprego fixo, tem que ser economicamente produtivo e próspero, Jesus Cristo foi um solteirão por toda vida, deixou de trabalhar formalmente aos trinta anos de idade, e viveu na pobreza a vida toda. Jesus de Nazaré não era homem?
Como filhos da cultura, a maior parte de nós internalizou uma multidão de mitos que nos dizem que só se pode ser homem de uma maneira. São esses mitos do mundo masculino que matam tantas mulheres, física e emocionalmente. E são esses mesmos mitos que matam os próprios homens, sobretudo no campo da saúde pessoal.
Que o Acampamento dos Homens da IBP tenha sido uma oportunidade para desconstruirmos muitos desses mitos. Cremos que “outro homem é possível”: mais afetivo, mais passional, mais carinhoso, mais solidário, mais acolhedor. Outras masculinidades, além dessas que nossa cultura nos ensinou, são possíveis. É essa a meta dos homens da IBP, e em nome de Jesus e na força do Espírito Santo, chegaremos lá, fecundando o mundo com homens novos!
[Pastoral do boletim dominical de 18/09/2011]