Maceió, 13 de outubro de 2011
MANIFESTO DA IGREJA BATISTA DO PINHEIRO CONTRA O DESCASO PÚBLICO EM RELAÇÃO ÀS FAMÍLIAS E COMUNIDADES ATINGIDAS PELAS ENCHENTES EM ALAGOAS
“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”
(Mateus 5,6)
Este documento é resultado das discussões empreendidas durante o fórum bienal Igreja & Sociedade, ocorrido este ano em nossa comunidade religiosa, e que teve por tema “A atuação das igrejas nas situações de calamidade pública: Alagoas em questão”.
Nós, da Igreja Batista do Pinheiro, estivemos dialogando com diversas representações da sociedade civil alagoana, acerca da terrível situação em que se encontram as famílias atingidas pelas enchentes em nosso estado nos anos de 2010 e 2011. Nossos diálogos foram fomentados por representantes das comunidades atingidas, da comunidade acadêmica universitária, da arena político-partidária, do funcionalismo público estadual, e da comunidade religiosa, todos no intuito de encontrar respostas para o flagrante descaso em que se encontram as referidas famílias alagoanas.
Neste sentido, o presente documento tem o caráter de protesto em relação às entidades responsáveis pelas políticas de intervenção nessas comunidades, e dirige-se, sobretudo, ao Governo do Estado de Alagoas e ao Ministério Público Estadual, cobrando-lhes celeridade nas ações e fiscalização mais transparente quanto aos recursos destinados pelo Governo Federal para o programa de reconstrução das comunidades atingidas. Exigimos das entidades mencionadas maior transparência possível na utilização dos recursos públicos destinados à reconstrução das comunidades atingidas, haja vista a denúncia de residentes das próprias comunidades, relativas às arbitrariedades na utilização desses recursos e na destinação das novas residências já estarem sendo uma prática presente em alguns dos municípios atingidos.
Como comunidade religiosa, e como entidade da sociedade civil preocupada com o bem-estar dos nossos irmãos e irmãs alagoanos, consideramos vexatória a participação do Governo do Estado de Alagoas, e exigimos do mesmo respostas imediatas e ações políticas rápidas e eficazes que ajudem a minorar o sofrimento das milhares de famílias que há dezesseis meses vivem em condições subumanas em acampamentos comparáveis a “campos de refugiados”. O fórum Igreja & Sociedade 2011 apenas ratificou aquilo que em visitas pessoais os líderes da Igreja Batista do Pinheiro puderam verificar in loco, e aquilo que a Rede Globo de Televisão publicizou para todo o país, coincidentemente nos mesmos dias em que realizávamos o fórum: ausência de saneamento básico, alimentação precária, disseminação de doenças infectocontagiosas (sobretudo entre as crianças), crescimento da criminalidade e prostituição infantil.
Lamentamos a ineficácia do Governo do Estado de Alagoas nas políticas intervenção nessas comunidades, ao passo em que no estado de Pernambuco a maior parte das famílias já está realocada. No entanto, nosso lamento e indignação juntam-se a um clamor por justiça em relação às milhares de famílias que ainda vivem sob essas condições. Não gostaríamos que os dezesseis meses dessa tragédia política se estendessem para os vinte e dois anos da tragédia política da comunidade de Santa Fé, em União dos Palmares.
Pr. Wellington Santos
Prª. Odja Barros
Pr. Paulo Nascimento