NOTA PÚBLICA DA ALIANÇA DE BATISTAS DO BRASIL SOBRE A PANDEMIA DO COVID-19 (CORONAVÍRUS)
A Aliança de
Batistas do Brasil vem a público neste momento em que atravessamos uma grave crise
mundial, com contornos específicos e dramáticos em nosso País, para, primeiro,
reconhecer e somar-se às vozes de igrejas-irmãs como a Igreja Episcopal Anglicana
do Brasil (IEAB), a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), a Igreja Evangélica
de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), dentre outras que também se pronunciaram
clamando por prevenção e atenção às normas sanitárias e de isolamento,
inclusive com o cancelamento de suas celebrações presenciais.
Nossas comunidades
espalhadas pelo Brasil têm também tomado essas medidas, além de orientar aos seus
membros a atenção às boas práticas preconizadas pelos organismos de saúde pública,
sobretudo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS), mas também por organizações públicas brasileiras com extenso
serviço à sociedade, como a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que em seu Portal
de Boas Práticas recomenda como medidas eficazes para a prevenção do COVID-19:
- Lavar as mãos com água e sabão ou
higienizador à base de álcool para matar vírus que possam estar nas mãos.
- Manter pelo menos 1 metro de distância de
qualquer pessoa que esteja tossindo ou espirrando, já que quando alguém tosse
ou espirra, pulveriza pequenas gotas líquidas do nariz ou da boca, que podem
conter vírus.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca, já
que as mãos tocam muitas superfícies e podem ser infectadas por vírus, e uma
vez contaminadas, elas podem transferir o vírus para os olhos, nariz ou boca, entrando
o vírus no corpo da pessoa e deixando-a doente.
Para além das
questões médicas e sanitárias, importantes e fundamentais, somos chamados como
povo de fé a ir além e exercer virtudes como amor, paz, bondade, fé, mansidão e
temperança (Cf. Gálatas 5:22).
Isso certamente se desdobra em muitas reflexões e chamado à ação.
Como consequência
do amor, como maior das virtudes, reconhecemos indignados que nem todas as
brasileiras e brasileiros podem atender a essas simples recomendações, pois
estão desprovidas de condições materiais básicas: milhões de trabalhadores
informais não podem se isolar em suas casas pois dependem do seu trabalho
diário para seu sustento; milhares de pessoas em situação de rua não tem como
cuidar de sua higiene – e a esses se somam milhões de brasileiros que vivem em
situação precária, em áreas periféricas esquecidas pelo poder público, a não
ser, como observado por organizações e coletivos, irmãs e irmãos ,que atuam
como profetizas e profetas nessas áreas, quando se trata do braço armado
violento e repressor do Estado, em especial nesse momento de exercício livre e
planejado de uma política de morte (necropolítica).
Nosso chamado,
portanto, vai além do atendimento individual – ou ainda pior, individualista –
de normas profiláticas. Que este seja um tempo de exercício de solidariedades! Assim,
não basta fechar as portas nos dias de culto: é preciso pensar estratégias de
cuidado para com as pessoas de nossa comunidade não alcançadas pelas políticas
públicas. Não basta pedir isolamento: é preciso seguir denunciando a omissão do
Poder Público em nível federal, estadual e municipal, e exigindo que medidas
urgentes, como a concessão imediata de todos os pedidos paralisados que atendam
aos requisitos para o Bolsa Família, sobretudo os da região Norte e Nordeste,
ou a proibição de quaisquer demissões por um prazo mínimo de 90 dias, sem
redução de salário, mas com redução de jornada, e, na medida do possível, em
férias coletivas, ou ainda exigir a contratação imediata de profissionais de
saúde que estejam aguardando a chamada em concursos por Prefeituras, Estados e
Governo Federal.
Esses são só
alguns exemplos de medidas que podem ser tomadas de forma imediata. Entendemos
que a vida de cada pessoa importa, mas que as vidas que estão em situação de vulnerabilidade
exigem de nós posicionamentos firmes em sua defesa a fim de que o “amor
cristão” não seja só uma frase bonita dita em sermões que não encontra
concretude na realidade.
Conclamamos nossas
comunidades e nossos irmãos e irmãs de fé para que nesse momento de distanciamento
social e mudanças extremas de nossas rotinas cotidianas estejam em oração e vigilantes
para que nossas respostas como sociedade e poder público estejam à altura da
gravidade do momento, e que sejam antes de tudo, promotoras de saúde, vida
digna e justiça para todos os brasileiros e brasileiras, especialmente os mais vulneráveis.
Por fim,
repudiamos como anticristãs todas as falas de lideranças religiosas que buscam
constranger seus fiéis a participarem de cultos e reuniões, alegando falar em
nome de Deus ou da Bíblia, colocando a vida destes em risco apenas para manter,
em muitos casos, as rendas indecentes de seus “ofertórios” conseguidas através
de manipulação e coerção psicológica (Mt. 7:15; Rm. 16:18; II Pe. 2:3).
Aliança
de Batistas do Brasil, 20 de março de 2020.