14/06/2019

Boletim Dominical 16/06/2019

VALE TUDO?
“Não será assim entre vocês” (Marcos 10:43a)

            Aprendi com Jesus de Nazaré que os fins não justificam os meios. Não podemos no afã de “resolver” uma questão ou de conseguirmos algum êxito, seja de que demanda for, usar de todos os meios disponíveis na praça. Uma regra mínima que podemos chamar de ética precisa nortear nossas decisões no que tange ao dia a dia da luta bruta pela sobrevivência.
            Momento incômodo em nosso país, até certo ponto doentio, no que tange a fazer uma crítica honesta dos processos em andamento, sem ser acusado de ser “comunista”, “extremista”, “petista” e/ou fazedor de “balbúrdia”. Atualmente em terras brasilis, ser contrário às declarações misóginas, violentas, racistas e homofóbicas, armas nas mãos do povo sem controle algum nas ruas, reformas (trabalhista e da previdência) que impõe ainda mais sofrimento ao já tão sofrido e espoliado trabalhador médio brasileiro e o vale tudo que se tornou a justiça brasileira, é ser na opinião de alguns, antipatriótico e a favor da corrupção. Lamentável o nível de cegueira e ignorância.
            Fomos sacudidos com mais revelações da trama que envolveu a “pura” justiça brasileira para interferir nos resultados das eleições do ano passado. Já não bastasse que o juiz envolvido diretamente no processo que deixou um dos candidatos impossibilitado de participar do pleito, logo em seguida assumisse um cargo no governo que ajudou a eleger de forma pouco ética e transparente; agora vem a público áudios de conversas em que o juiz trata de forma estranha com a promotoria os caminhos para condenar e inviabilizar qualquer possibilidade de defesa do interessado. Interessado? Não seria este o “pior” ladrão da história deste país, justificando assim todos os meios para encarcerá-lo e retirá-lo de circulação para manter o país livre de assaltantes do erário público e/ou de convulsões sociais como nos alerta o general Villas Boas?
            Inocente? Não afirmo que ninguém neste grande jogo do poder seja inocente. Inocente, para um momento, são aqueles e aquelas que servem ao Capital com sua fome insaciável de lucro. Após lhes servir, já não é mais inocente, torna-se culpado, o pior de todos os tempos. A questão em tela depois das denúncias do The Intercept é a seguinte: Vale tudo? Vale combater corrupção com corrupção? Vale combater mentira com mentira? Vale combater injustiça com injustiça? Vale combater os opositores com cadeia, tiro, pancada e bomba, enquanto aos apoiadores os aplausos, afagos, liberdade e salvo conduto para fazer e dizer o que quiser?
            Minha inspiração de vida, permita-me aos religiosos e religiosas de plantão, é o Senhor Jesus Cristo de Nazaré. Quando não acreditar mais em suas palavras, modus operandi e modus vivendi, talvez eu tenha coragem de não citá-lo mais e de não mais me reconhecer como seu seguidor. Por enquanto, continuo amando-o e seguindo-o, tentando manter a coerência e buscando encontrar sua essência nas vielas pobres de Nazaré da Galileia. Foi Jesus que disse, segundo Marcos 10:43: “não será assim entre vocês”, após uma disputa idêntica a muitas disputas doentias atuais por poder e status, travada entre seus discípulos (discípulos que lembra muito quem somos como igreja). Mesmo Jesus dizendo que não deveria ser assim entre aqueles e aquelas que queriam ser seus seguidores, denunciando o pecado do poder, status, desejo de que sua narrativa prevaleça como única e verdadeira alijando as demais e de que os fins justificam os meios, estes pecados acabam em muitas ocasiões, para não dizer na maioria delas, prevalecendo.
            Para concluir esta breve reflexão indago: O que ensinaremos para as próximas gerações do nosso querido e amado Brasil? Que em virtude de ter uma “grande quadrilha” assaltando os cofres do nosso país, uma outra “quadrilha” se formou, travestida de heroína por vestir terno e toga, para por todos os meios e tramas, “salvar” a pobre e frágil democracia brasileira destes meliantes? Prefiro ficar com as palavras de Jesus de Nazaré, autor e consumador da minha fé, dizendo não ao vale tudo: “Não será assim entre vocês”.

Do seu amigo e pastor, Wellington Santos