13/12/2019


O NATAL QUE NÃO QUEREMOS VER
Mateus 2:16-18

Quando chega esta época, dizem as propagandas midiáticas que o “amor” fica exalando pelo ar. Músicas suaves, luzes iluminando nossas cidades e casas, ornamentações (simples e estilizadas), confraternizações variadas, presentes, jantares especiais e algo mais, ajudam a dar um tom mágico ao período natalino. Afinal de contas, num país declarado de maioria Cristã, o natal é (pelo menos deveria ser) a celebração do nascimento de Jesus Cristo, o salvador da humanidade.
Existe um natal que todos nós apreciamos e gostaríamos que se estendesse por todo ano. Talvez assim, em vez de contendas, brigas e disputas que vão das nossas casas, locais de trabalho e muitas vezes chegam até em nossos locais de culto, viveríamos um tempo estendido de harmonia, paz e relações mais amoráveis.
As narrativas natalinas contadas e recontadas ano a ano, já fazem parte do nosso imaginário, entretanto, algumas cenas das narrativas natalinas que encontramos nas escrituras são indigestas e talvez por isto, não fazemos muita questão de conhecer. Uma delas diz respeito à citação bíblica registada em Mateus 2:16-18. Nesta passagem bíblica, após o rei Herodes ser enganado pelos reis magos, tomado de fúria, determinou que todos os meninos abaixo de dois anos fossem mortos em Belém e arredores (v.16). Esta atitude fez cumprir uma triste profecia encontrada em Jeremias 31:15: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem” (v.v. 17 e 18).
No natal que não queremos, ver crianças pobres, negras e periféricas continuam sendo assassinadas pelos “Herodes” contemporâneos nas madrugadas da vida. Mães e pais choram a ausência dos seus filhos. No natal que não queremos ver, nossas opulências precisam ser justificadas com o “espírito” natalino de “Confra”, pois, afinal de contas não temos culpa da fome e desesperança que ronda a maioria das nossas famílias pelo mundo. No natal que não queremos ver, parece que a violência que coloca em risco as vidas de mulheres e LGBTQI+, especialmente pobres, durante todo o ano; fazemos questão de esquecer e de acreditar que isto não passa de devaneio da cabeça de alguns.
O natal é sim tempo de parar e refletir acerca do nascimento de uma criança especial, de família pobre e refugiada, que precisa nos primeiros dias de vida, se esconder e mudar de lugar às pressas para não ser assassinada logo ao nascer, a exemplo dos seus pequeninos irmãos em Belém (Mateus 2:16-18). Esta cena continua se repetindo e acontecendo todos os dias do ano, bem debaixo do nosso nariz.
Natal sem reflexão, lágrimas, silêncio, simplicidade, introspecção, solidariedade, compaixão e um desejo profundo de mudança de vida durante todo o transcorrer do ano, torna-se apenas mais uma festinha consumista, vazia, pagã e refém do deus capital que celebra a inutilidade do SER em detrimento da celebração do TER.
Gosto do natal, já gostei menos. Hoje procuro celebrar o natal com todas as suas dimensões de boas novas de alegria (Lucas 2:8-14) e não esconder dos meus olhos e emoções o natal de mães e pais chorando as injustiças do seu tempo (Mateus 2:16-18). Que de olhos e corações abertos para todas as cenas natalinas narradas nas escrituras, possamos ter uma mudança profunda de atitude diante da vida e do nosso semelhante.  

Do seu pastor e amigo, Wellington Santos