18/06/2013

O ATO PÚBLICO DE 17 DE JUNHO DE 2013


Por Johndalison Tenório

Vou tentar escrever o mínimo de clichês possível, mas se não conseguir paciência! O que está realmente importando, é registrar o que vi e o que vivi ontem em Maceió. Poderia escrever apenas “Foi maior Ato Público dos últimos 20 anos!”, mas é pouco. Há muito mais! Começando pela faixa etária dos participantes que ontem tiveram um ganho de cidadania, democracia, civilidade, e estava eu, um "tio" de quase 44 anos, ali no meio de uma “pivetada” animada, posso dizer até um tanto quanto ingênua, na sua maioria a primeira vez que participaram de algo tão impressionante, mas focados e decididos a se manifestar. Tenho a esperança que essa geração de cidadãos e cidadãs terá uma nova percepção da sua realidade, de seus contextos. Já posso dizer que são brasileiros e brasileiras mais presentes, mais vigilantes, mais atuantes. Acredito que essa galera, vai fazer a diferença no cenário político. Mobilizações dessa natureza, com o contingente que tivemos ontem, devem ser observadas com atenção tanto por mandatários, como por aspirantes aos pleitos eleitorais próximos. Esse pessoal “tá ligado”, e não ficará em casa quando forem chamados para cobrar dos representantes eleitos e dos poderes públicos suas obrigações.

Um segundo ponto que faço destaque. A mobilização voluntária que nasceu nas redes sociais. Ninguém me convence que carros com difusoras, convocando as pessoas ou militantes com panfletos distribuídos em escolas ou no passeio público, foram os responsáveis por uma participação dessa monta. Grande parte da força desse movimento vem dessa nova maneira de se comunicar, a informação em tempo real. Foram postagens que alcançaram milhares de pessoas ao mesmo tempo. Mesmo nas frias telas de PCs, notbooks, tablets e celulares, o sentimento de sair para manifestar suas indignações impregnou as pessoas! Essa democrática eletrônica vai dar trabalho, "Vem pra rua!" E amém por isso. Aqui em casa, meus filhos, ele 18 e ela 16, se articulavam. Pelos sons emitidos das teclas, dava para perceber que dedinhos velozes, estavam expressando expectativa, ansiedade. Uma vontade de dizer o que pensam através do protesto coletivo, sobre os rumos que a sociedade vem tomando, de goela abaixo, quase sem reclamar. Um cartaz me chamou a atenção, "Saímos do Face. Estamos nas ruas!" "O gigante acordou!" Falas do coletivo.

E esse é um novo ponto que destaco nesse texto. Ontem estava o coletivo em matizes sociais e manifestações diversas. Eram estudantes da rede pública e de escolas particulares. Universitário, jovens e  adultos participando diretamente do protesto. Em seus rostos estavam representados os desgostos da sociedade, a insatisfação pelo abuso de preços, o mau uso da máquina pública, a falta de oportunidade para trabalhar, o não investimento educacional. Mas houve outra participação, indireta, de outros grupos coletivos insatisfeitos. Eram os muitos dos que assistiam a passeata, de mais de cinco mil pessoas, demonstraram seu apoio com sorrisos, palmas, braços levantados, o famoso dedo legal. Pessoas admiradas com a quantidade de gente envolvida participando da caminhada, que percorreu o centro nervoso da cidade de Maceió. A cidade parou! Na Rua Augusta (Leia-se, rua das arvores), dava para se ter uma ideia do tamanho do movimento. Muitos aderiram ao passo que o protesto avançava, vinham das calçadas, desciam dos ônibus. De fato, o clima era emocionante, envolvente.

É claro que a cultura da opressão, herança da ditadura militar, não permitiu que a participação fosse maior. É a idiossincrasia de que a manifestação popular democrática seja uma insurreição ao Estado. São gerações que foram adestradas a não confrontar o poder constituído. Que foram ,manipuladas midiaticamente, de que manifestação é sinônimo de desordem, vandalismo, de prejuízo, de ser ferido ou morto. Ameaçadas pela violência dos cassetetes, escudos, capacetes e coturnos. Que foram induzidas a ter medo de reivindicar melhores condições e por aí vai! Um passado muito vivo. Mas quero acreditar que há esperança de que essa nova geração tenha a chance de se expressar com mais liberdade. E assim mostrar que é possível um coletivo mais presente e participativo, com liberdade de exercitar a democracia ativa.

Tentando Encerrar esse texto, quero trazer mais um destaque. É claro que não pretendo resumir o que aconteceu com o que escrevi até aqui, é impossível. Há muito mais a se dizer. Não dá pra sintetizar, e estou muito longe de conseguir fazer tal façanha! Há muito mais. Quero destacar o clima de paz. A consciência da não violência. Quando um ou outro manifestante tentava pichar ou criar situações fora do propósito que guiava o movimento, recebiam vaias e uma típica frase de galera, “Uh vacilão! Uh vacilão!”, havia outras frases, mas essa já era o bastante para não se continuar. E isso era impressionante, a todo o tempo, o pessoal estava atento aos excessos. Não partia de uma liderança do movimento, vinham das pessoas! Ah! Tinha policia. E esta acompanhava, teve até batedores interrompendo o trânsito, (Leia-se, um “controle”.). Foram mais de três horas de manifestação pacífica! Houve vários momentos de demonstração de patriotismo, tais como, quando na Avenida Tomás Espíndola, onde sentados no chão, cantamos o Hino Nacional. Foi de arrepiar! O grande clímax foi quando nos dirigimos para a Avenida Fernandes Lima e paramos as duas vias! Já passava das 19:00 horas, junto subimos a Avenida na contramão. Não tinha nenhum carro da SMTT à frente dos que tomaram o sentido Tabuleiro-Centro. Foram os protestantes (leia-se, manifestantes. E que bom poder escrever essa palavra.) que tomaram a via. Nós percebemos a força da manifestação popular! Com os carros paralisados pela caminhada, muitos motoristas buzinavam em apoio, alguns saiam dos carros e se confraternizavam com manifestantes, ou simplesmente conversavam comentando o protesto. O Ato Público fez mais do que protestar, ele fez as pessoas falaram uma com as outras, o ganho foi maior que o imaginado!

Mesmo com todo esse clima de protesto civil, popular e democrático, não posso deixar de relatar o que presenciei. Um ato insensato de um motorista motivado ou não por seu passageiro (Leia-se, quem quer que seja mal intencionado.). Um infeliz dentro daquele automóvel se entendeu estar acima do bem e do mal, acima da lei, alguém ali se travestiu de um tipo de deus e empoderado de uma arma de fogo, se sentiu o senhor da vida e da morte. Se não tivessem “escorados”, o motorista não teria se armado do carro, para avançar sobre as pessoas que estavam na já paralisada Fernandes Lima, e com um agravante, estes irresponsáveis são servidores públicos! Eles viram que havia polícia no local. Mesmo assim decidiram agir por conta própria, quero reforçar que nenhuma repito, nenhuma ambulância teve seu trajeto barrado pela manifestação! Sempre que se via uma ambulância os participantes abriam espaço para elas passarem, quantas fossem! O que havia de tão importante na SIMA que fosse necessário uma atitude assim?! Porque então, não foram até seus colegas servidores e pediram para se locomoverem! Não estavam transportando nenhum ferido? Não importa o que fosse, nada justifica o que aconteceu. Uma coisa é você não aceitar que uma mobilização impeça seu direito de ir e vir. Outra coisa é impor sua vontade em detrimento da vida de outrem.

Desta vez prometo encerrar! Não posso deixar de destacar a atitude cívica das escolas aos liberarem seus estudantes, algumas cederam cartolinas e tinta para a confecção de cartazes. Esse foi um exercício de cidadania que sempre espero dos que são responsáveis pelos primeiros contatos com os saberes da humanidade, aos nossos filhos e filhas. Também faço um voto de louvor a Deus, pela atitude proativa dos jovens e adolescentes da Igreja Batista do Pinheiro, igreja a qual sou membro há 28 anos e mais de 30 de convívio. Essa comunidade sempre reivindicou por democracia, por cidadania, por direitos sociais a todos e todas, denunciando as desigualdades e desmandos. Vocês horaram essa nossa “tradição” democrática! Vocês renovam nossa esperança em um Brasil melhor e mais justo! Sua participação nos dá a certeza de que vale a pena servir a Deus e comunidade e de que estamos no caminho certo. Aproveito para dizer também que muito do que dizem da IBP se atribuí ao seu pastor presidente, e digo aqui categoricamente, não é verdade! Welligton Santos já nos encontrou assim como nós somos! Simplesmente tentando responder aos proclames do Evangelho de Jesus de Nazaré! O que acontece é que se uniu o útil ao agradável. Nós tentando ser úteis ao Senhor e sendo muito agradável ser pastoreado por este servo e esta serva de Deus, Welligton Santos e Odja Barros, que sempre vem nos provocando para o serviço do Reino.

Durante essa semana haverá outras manifestações, sempre que possível estaremos lá! Faço minhas as palavras de Dom Robson Cavalcante. “Onde houver um ajuntamento de pessoas protestando contra as desigualdades, quaisquer que sejam eu vou está lá! Só não irei se esse ajuntamento for de partidos da direita brasileira".