14/04/2018

Pastoral Domingo 15/04/2018


Religião x Evangelho
Uma rápida reflexão a partir do livro Cristo e Cultura de Richard Niebhur, págs. 16 e 17

Em tempos de tanta confusão e discursos em nome de Deus, da família, igreja, religião e evangelho; sugiro a leitura e reflexão das palavras abaixo descritas e retiradas do livro Cristo e Cultura de H. Richard Niebhur, lançado no Brasil em 1967 pela editora Paz e Terra.
51 anos depois, as palavras introdutórias do livro parecem ter sido escritas na semana passada, refletindo o majoritário cenário religioso brasileiro atual. A quem interessa que a religião, e em especial o Evangelho, seja transformado em "canga" e instrumento de dominação, e diria mais, instrumento de alienação. Dentre as palavras abaixo, tem uma frase que muito falou ao meu coração: "A fé é a semente fértil...é o futuro...A fé é o desapego dos que aguardam a madrugada e não perdem tempo olhando para trás". Que possamos ser portadores e testemunhas do Evangelho e nunca queiramos ser "defensores".
Boa leitura e reflexão.
Do seu pastor e amigo
Wellington Santos.

“Sofrendo o impacto do trabalho revolucionário de Marx, Kal Barth, o conhecido e influente teólogo suíço, afirma que religião é mesmo a mais alta expressão do pecado humano. Paul Tillich, teólogo alemão refugiado de Hitler nos Estados Unidos, afirma que Jesus veio ao mundo para provar que a religião não compensa e que o evangelho significa exatamente a libertação da canga da religião da lei e da lei da religião. Estas afirmações ilustram certamente a necessidade de ganharmos maior precisão nos termos que usamos corretamente nessa área.
É necessário distinguir religião, canga e instrumento de dominação, de evangelho – mensagem de libertação dos cativos; distinguir entre fé, resposta positiva ao ato de libertação, e cultura – meio através do qual ela se deve expressar. É necessário superar definitivamente conceitos como o de uma “fé religiosa”, pois fé e religião são inconciliáveis. Uma só pode subsistir com o sufocamento da outra. A fé é a semente fértil. A religião é a semente esterilizada que pode servir para comer ou para o comércio. A fé é o futuro. A religião é o apego ao passado, à insegurança, ao statu quo, muitas vezes feita em nome do futuro, e quase sempre feita em benefício dos comerciantes. A fé é o desapego dos que aguardam a madrugada e não perdem tempo olhando para trás. A fé é a loucura, a audácia. A religião é a prudência, o instinto de conservação.
A grande traição da Igreja como instituição consiste em que, ao invés de constituir-se portadora e testemunha do evangelho, ela se apresentou como “defensora” do evangelho. Isto na prática se refletiu num esforço de domesticar o Evangelho, a serviço de determinada cultura e dos seus interesses arraigados. Como resultado, ao invés de seguir o caminho da fé, a igreja se colocou na defesa dos privilégios que lhe garantiam a segurança, na santificação do status quo, e a religião resultante dessa traição tornou-se a principal sustentação da ideologia das classes dominantes, da luta pela santificação dos objetos”.