FAMÍLIA:
“UM PEQUENO MUNDO”
Frei Carlos
Mesters certa vez escreveu: “Quem não cuida da casa e deixa o cupim entrar nas
vigas do teto, não pode se queixar do carpinteiro quando a tempestade derruba o
telhado”. Ele escreve se referindo ao povo de Israel na época do cativeiro
babilônico quando o povo se queixava de Deus por ele os ter abandonado. Mas,
segundo ele a realidade era outra: “O cupim tinha entrado na viga da fé. A casa
desabou. E agora queriam colocar a culpa em Deus pelos males que estavam
sofrendo.
Essa reflexão é
bem apropriada para pensarmos sobre o papel da família no projeto de Deus. A
casa, a família, o clã, família ampliada e a comunidade foram os espaços
escolhidos por Deus para se revelar a humanidade. Foi a partir dos pequenos espaços familiares
e comunitários que Deus sonhou um novo mundo e uma nova criação. O chamado
feito a primeira família é um exemplo disso:
“Então o Senhor
disse a Abrão: "Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de
seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo,
e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei
os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você
todos os povos da terra serão abençoados". (Gênesis 12:1-3)
Outro exemplo está
na experiência do cativeiro. A experiência do cativeiro foi tempo de perdas e
reconstrução. Perdeu-se tudo aquilo no que tinham colocado a confiança: terra, exército,
templo, sacerdócio, prestígio e poder. No cativeiro sobrou o pai, a mãe, o marido,
a esposa, os filhos e filhas, o mundo pequeno da família, a “casa”. Foi
exatamente neste espaço, onde o povo redescobriu a presença de Deus que não estava
ligada ao templo, ao sacerdócio e ao culto oficial. Foi no espaço enfraquecido
da casa, do mundo pequeno e limitado da família que tudo renasceu e continua
renascendo até hoje:
“Tu
és o nosso Pai! Ainda que Abraão não nos conhecesse e Israel não tomasse
conhecimento de nós, tu, Javé, é nosso pai, nosso redentor. (...) Por acaso,
uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela dos
filhos do seu ventre? (Isaías 63:16 e 49:15)
Todas as famílias
passam por tempos de exílio, cativeiro e sofrimentos tal qual a experiência do
povo de Israel. Às vezes, estes momentos podem ser momentos oportunos para
reconstrução e um novo olhar para Deus e para si mesmo como povo e como
família. Para nós, povo de fé que cremos no cuidado da vida e do mundo como um chamado
e uma missão, não podemos negligenciar o cuidado familiar. A casa, a família é
o pequeno mundo que está sob o nosso cuidado. O pequeno mundo da família pode
ser o espaço a partir de onde Deus quer construir novos mundos. Neste mês
dedicado a família convidamos toda comunidade a revisarmos as vigas das nossas
casas e junt@s nos perguntarmos: Como
temos cuidado do pequeno mundo que Deus colocou sob nosso cuidado?
Prª. Odja Barros