EIS AÍ TEU FILHO! EIS AÍ TUA MÃE!
Um dos momentos de
Jesus na cruz menos destacado para nós de tradição protestante é a palavra de
Jesus que se encontra apenas no Evangelho de João 19:25-27: “Perto da cruz de
Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena.
Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava,
disse à sua mãe: "Aí está o seu filho", e ao discípulo: "Aí está
a sua mãe". Daquela hora em diante o discípulo a levou para casa.
A tradição
católica tem usado esse texto para afirmar a doutrina de Maria como mãe da
Igreja, no entanto, a comunidade de João tinha outro sentido teológico. Nesta cena, Jesus vê a “a mãe”, já não como sua
“mãe” como mencionada em Caná (João 2:1-11), mas como símbolo da nova comunidade
saída da tradição antiga dos judeus.
A ordem de Jesus à
mãe e ao discípulo amado, apela para o reconhecimento mútuo: Olha aí teu filho!
Olha aí tua mãe! Teologicamente, o Evangelho de João quer que a antiga
comunidade judaica (mãe) reconheça como sua descendência a nova comunidade. E a
nova comunidade reconheça suas raízes maternas na antiga tradição judaica.
Talvez um apelo para buscarem entendimento e unidade, uma vez que nesta época
os judeus cristãos estavam sendo expulsos das sinagogas judaicas por assumir o
seguimento de Jesus como Messias.
“Eis aí teu filho! Eis aí tua mãe!”
A despeito dos
sentidos literários e históricos da passagem, a cena é belíssima! Em meio as dores e sofrimentos da cruz, Jesus
age como mãe cuidadosa com sua comunidade de discípulos e discípulas. E apela
para a necessidade de aceitação, reconhecimento e cuidado mútuo. Eis aí tua mãe! Eis aí teu filho! Quantas pessoas esperam esse reconhecimento em
sua própria família? Quantos de nós somente encontrou esse reconhecimento
filial e maternal no seio da comunidade de fé?
A família deve ser
o primeiro espaço onde cada pessoa é reconhecida e amada. Lugar onde vive-se a
experiência profunda de filiação humana. E a igreja, deveria ser a família mais
ampla, onde experimenta-se a filiação espiritual. No entanto,
sabemos que tanto a família, quanto a igreja tem falhado. Quanta experiência de
orfandade familiar e espiritual vividas por pessoas dentro das famílias e das
igrejas!
“Daquela hora em diante o discípulo a levou para
casa...”
A frase indica o
acolhimento e o cuidado assumidos pelo discípulo amado com sua “nova mãe”, a
comunidade. (...) “daquele dia em diante
o discípulo a levou para casa” aponta para missão de cuidar que todos nós
recebemos do Cristo. Cuidar das famílias e da comunidade de fé é missão nossa
enquanto discípulos e discípulas de Jesus. Que neste mês da família possamos
ouvir a voz de Jesus dentro da nossa própria casa e igreja. Quem são as “mães”?
Quais são os filhos e filhas dentro de nossas próprias casas e igreja
necessitados de reconhecimento e cuidado amoroso?