11/05/2018

Pastoral Domingo 13/05/2018


EIS AÍ TEU FILHO! EIS AÍ TUA MÃE!

Um dos momentos de Jesus na cruz menos destacado para nós de tradição protestante é a palavra de Jesus que se encontra apenas no Evangelho de João 19:25-27: “Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe: "Aí está o seu filho", e ao discípulo: "Aí está a sua mãe". Daquela hora em diante o discípulo a levou para casa.
A tradição católica tem usado esse texto para afirmar a doutrina de Maria como mãe da Igreja, no entanto, a comunidade de João tinha outro sentido teológico.  Nesta cena, Jesus vê a “a mãe”, já não como sua “mãe” como mencionada em Caná (João 2:1-11), mas como símbolo da nova comunidade saída da tradição antiga dos judeus.
A ordem de Jesus à mãe e ao discípulo amado, apela para o reconhecimento mútuo: Olha aí teu filho! Olha aí tua mãe! Teologicamente, o Evangelho de João quer que a antiga comunidade judaica (mãe) reconheça como sua descendência a nova comunidade. E a nova comunidade reconheça suas raízes maternas na antiga tradição judaica. Talvez um apelo para buscarem entendimento e unidade, uma vez que nesta época os judeus cristãos estavam sendo expulsos das sinagogas judaicas por assumir o seguimento de Jesus como Messias.
“Eis aí teu filho! Eis aí tua mãe!”
A despeito dos sentidos literários e históricos da passagem, a cena é belíssima!  Em meio as dores e sofrimentos da cruz, Jesus age como mãe cuidadosa com sua comunidade de discípulos e discípulas. E apela para a necessidade de aceitação, reconhecimento e cuidado mútuo.  Eis aí tua mãe! Eis aí teu filho!  Quantas pessoas esperam esse reconhecimento em sua própria família? Quantos de nós somente encontrou esse reconhecimento filial e maternal no seio da comunidade de fé?
A família deve ser o primeiro espaço onde cada pessoa é reconhecida e amada. Lugar onde vive-se a experiência profunda de filiação humana. E a igreja, deveria ser a família mais ampla, onde experimenta-se a filiação espiritual.   No entanto, sabemos que tanto a família, quanto a igreja tem falhado. Quanta experiência de orfandade familiar e espiritual vividas por pessoas dentro das famílias e das igrejas!
“Daquela hora em diante o discípulo a levou para casa...”
A frase indica o acolhimento e o cuidado assumidos pelo discípulo amado com sua “nova mãe”, a comunidade.  (...) “daquele dia em diante o discípulo a levou para casa” aponta para missão de cuidar que todos nós recebemos do Cristo. Cuidar das famílias e da comunidade de fé é missão nossa enquanto discípulos e discípulas de Jesus. Que neste mês da família possamos ouvir a voz de Jesus dentro da nossa própria casa e igreja. Quem são as “mães”? Quais são os filhos e filhas dentro de nossas próprias casas e igreja necessitados de reconhecimento e cuidado amoroso?

Prª. Odja Barros