Vila IBP
O tema do nosso Arraiá Junino este
ano nos convida a relembrar das inúmeras vilas que permeiam nosso imaginário.
Segundo os dicionários, a palavra Vila é um substantivo feminino que significa povoação de categoria inferior a uma cidade, mas
superior a uma aldeia. Creio que a grande maioria da nossa comunidade guarda em
suas lembranças as imagens de alguma pequena Vila em que nasceu, viveu ou
simplesmente visitou a passeio. Como esquecer destes pequenos espaços
geográficos marcados pela simplicidade, com gente de fácil acesso e de coração
aberto, um pequeno armazém (bodega do Sr. Antônio e D. Maria que vendia de
“tudo” neste mundo), uma delegacia quase sempre fechada por falta de incidente,
uma igrejinha e a famosa pracinha onde aconteciam as festividades da
localidade.
Quando criança, em Aracaju, as
Villas urbanas eram pequenos conglomerados com pequenas casinhas unidas por um
pequeno e estreito corredor. Nestas pequenas Vilas moravam as pessoas pobres da
cidade. Recordo-me da minha Tia Rivanda iniciando sua vida conjugal, morando
numa pequenina Vila do meu bairro. Interessante era notar que estas casinhas
eram unidas pela mesma parede, e por serem cobertas de telhas, todo diálogo,
discussão, festa ou seja lá o que fosse nunca era um ato privado daquele casal
ou família, e sim, um ato coletivo. No dia seguinte, toda Vila estava
comentando o acontecido na noite anterior, isto quando as discussões não se
tornavam coletivas e a “festa” se arrastava pela madrugada, até que todos e
todas, cansados e cansadas iam dormir. Era animado!
Importante destacar na história que
uma pequenina Vila insignificante, tornou-se uma referência para fé cristã
tendo seu nome imortalizado na figura do Salvador da Humanidade, nosso Senhor
Jesus de NAZARÉ*. Na história bíblica, Maria teria sido visitada pelo anjo
Gabriel em Nazaré da Galiléia (Lucas 1:26) e recebido o anúncio da sua gravidez
divina. Apesar de Jesus não ter nascido em Nazaré, foi nesta pequenina Vila que
ele cresceu junto com sua família. Nazaré estava localizada no pequeno e pobre Estado
da Galiléia que possuía cerca de 400 habitantes na época (João 1:46). Fico
imaginando nosso Salvador e Senhor Jesus correndo e brincando pelas ruas estreitas
do pequeno Vilarejo com outras crianças enquanto crescia e ajudava seu pai José
na carpintaria.
Por tudo isto, o tema da nossa festa
junina este ano nos reporta à Vila, lugar de simplicidade, vizinhança próxima
(comunhão), tensão, dores, lágrimas, risos, partilha, perdas, conquistas
comunitárias e claro, lugar de muita festa e alegria. Ainda me lembro de alguns
domingos na Vila em que morava minha tia, quando os vizinhos(as) na sua grande
maioria finalmente de folga, colocavam seus aparelhos de som no corredor e
partilhavam ali suas músicas, comidas e muita conversa e risos até o final da
tarde quando finalmente se recolhiam para descansar e se preparar para mais uma
semana de lutas.
Viva a Vida, Viva a Vila IBP, que na
simplicidade e na partilha da festa possamos nos alimentar de Esperança para
enfrentar as lutas que virão pela frente.
*Segundo os evangelhos, Nazaré foi o lar de Jesus e
Seus pais desde o retorno do Egito até mudar-se para Cafarnaum, por volta dos
trinta e poucos anos de idade. Seus pais viveram ali antes de seu nascimento e
Ele, com certeza, possuía parentes entre os habitantes do vilarejo. Nos
períodos romano e bizantino (até o 4° século), Nazaré fora uma insignificante
vila, habitada em sua maioria por judeus pobres e incultos que se dedicavam à
produção de vinho e óleo. Isso pelo menos é o que nos revelam as escavações de
Bellarmino Bagatti, iniciadas em 1955, que trouxeram a lume um considerável
número de prensas para azeitonas e uvas, além de depósitos de água, vinho e
pão. Sobre as escavações e conseguintes conclusões desse
arqueólogo, veja suas notas em B. Baflatti, The Church from the Circumcision (Jerusalém: Franciscan,
1971).
Do seu pastor e amigo,