12/04/2019

Boletim Dominical 14/04/2019

LAVAR AS MÃOS?
“Quando Pilatos percebeu que não estava obtendo nenhum resultado...mandou trazer água e lavou as mãos...” (Mateus 27:24)

Casas, apartamentos e ruas com rachaduras. E daí, “graças a Deus” não tenho este problema e/ou não moro neste bairro. Logo, lavo minhas mãos?
Jovens espancados dentro de suas casas na periferia da minha cidade por policiais corruptos e indecentes. E daí, “graças a Deus”, não tenho este problema. Logo, lavo minhas mãos?
Parlamentar é chamada de nojenta por apresentador de tv, enquanto o então colega deputado federal (2014), eleito presidente, assevera: “Vagabunda, você não merece ser estuprada porque é muito feia”. E daí, “graças a Deus” não foi minha filha, mãe, companheira e amiga que foi insultada desta forma baixa e deplorável. Logo, lavo minhas mãos?
Cidadão negro, se dirige a um chá de bebê com sua família, enquanto seu carro é alvejado, “por engano” por 80 tiros disparados por soldados do exército, e acaba perdendo a vida inocentemente. E daí, apesar de “não ser racista” e achar que tudo isto é ‘mimimi’ de esquerdopatas, pois pessoas morrem todos os dias por engano, “graças a Deus” não foi comigo nem com os meus. Logo, lavo minhas mãos?
Inundações seguidas de mortes resultado da falta de investimento público em obras de drenagem e contenção de encostas, resultado do desvio de verbas e enriquecimento ilícito. E daí, “graças a Deus”, moro em áreas “seguras” e livres destes problemas. Logo, lavo minhas mãos?
Balas de borracha atiradas contra servidores públicos municipais, que cobrando e lutando por seus direitos, quebram portas “históricas” de vidro de valor inestimável para o erário, por isto merecem apanhar da polícia e serem taxados de baderneiros(as). E daí, “graças a Deus” não sou servidor público municipal. Logo, lavo minhas mãos?
Direitos trabalhistas e previdenciários ameaçados pela fome do capital ultraliberal, que acaba transformando trabalhadores(as) em subempregados(as), sem perspectiva de uma velhice tranquila e segura a exemplo de outros países “prósperos” para uma minoria e injusto para uma grande maioria. E daí, “graças a Deus” já sou aposentado e já tenho meu futuro assegurado. Logo, lavo minhas mãos?
Em princípio, como seguidores de Jesus de Nazaré, era para nos recusarmos a lavarmos nossas mãos nestas situações elencadas e em tantas outras que ameaçam a vida daqueles (as) que sofrem muitas vezes invisibilizados(as). Porém, a triste constatação é que a síndrome de Pilatos nos acompanha até os dias de hoje. Para livrar nossa pele e não nos comprometermos com as lutas que em tese não são nossas, optamos por lavar as mãos e fazer de contas que não estamos vendo nada.
Que a Divina Ruah (Espírito Santo) sopre coragem sobre todos(as) que congregam na IBP para que jamais fiquem indiferentes ao sofrimento do outro e assim se recusem a silenciar e a lavar as mãos seja em que condição for.

Do seu amigo e pastor,
Wellington Santos