LAVAR AS MÃOS?
“Quando Pilatos percebeu que não estava
obtendo nenhum resultado...mandou trazer água e lavou as mãos...” (Mateus
27:24)
Casas,
apartamentos e ruas com rachaduras. E daí, “graças a Deus” não tenho este
problema e/ou não moro neste bairro. Logo, lavo minhas mãos?
Jovens
espancados dentro de suas casas na periferia da minha cidade por policiais
corruptos e indecentes. E daí, “graças a Deus”, não tenho este problema. Logo,
lavo minhas mãos?
Parlamentar
é chamada de nojenta por apresentador de tv, enquanto o então colega deputado
federal (2014), eleito presidente, assevera: “Vagabunda, você não merece ser
estuprada porque é muito feia”. E daí, “graças a Deus” não foi minha filha,
mãe, companheira e amiga que foi insultada desta forma baixa e deplorável.
Logo, lavo minhas mãos?
Cidadão
negro, se dirige a um chá de bebê com sua família, enquanto seu carro é
alvejado, “por engano” por 80 tiros disparados por soldados do exército, e
acaba perdendo a vida inocentemente. E daí, apesar de “não ser racista” e achar
que tudo isto é ‘mimimi’ de esquerdopatas, pois pessoas morrem todos os dias
por engano, “graças a Deus” não foi comigo nem com os meus. Logo, lavo minhas
mãos?
Inundações
seguidas de mortes resultado da falta de investimento público em obras de
drenagem e contenção de encostas, resultado do desvio de verbas e
enriquecimento ilícito. E daí, “graças a Deus”, moro em áreas “seguras” e
livres destes problemas. Logo, lavo minhas mãos?
Balas de
borracha atiradas contra servidores públicos municipais, que cobrando e lutando
por seus direitos, quebram portas “históricas” de vidro de valor inestimável
para o erário, por isto merecem apanhar da polícia e serem taxados de
baderneiros(as). E daí, “graças a Deus” não sou servidor público municipal.
Logo, lavo minhas mãos?
Direitos
trabalhistas e previdenciários ameaçados pela fome do capital ultraliberal, que
acaba transformando trabalhadores(as) em subempregados(as), sem perspectiva de
uma velhice tranquila e segura a exemplo de outros países “prósperos” para uma
minoria e injusto para uma grande maioria. E daí, “graças a Deus” já sou
aposentado e já tenho meu futuro assegurado. Logo, lavo minhas mãos?
Em
princípio, como seguidores de Jesus de Nazaré, era para nos recusarmos a
lavarmos nossas mãos nestas situações elencadas e em tantas outras que ameaçam
a vida daqueles (as) que sofrem muitas vezes invisibilizados(as). Porém, a
triste constatação é que a síndrome de Pilatos nos acompanha até os dias de
hoje. Para livrar nossa pele e não nos comprometermos com as lutas que em tese
não são nossas, optamos por lavar as mãos e fazer de contas que não estamos
vendo nada.
Que a
Divina Ruah (Espírito Santo) sopre coragem sobre todos(as) que congregam na IBP
para que jamais fiquem indiferentes ao sofrimento do outro e assim se recusem a
silenciar e a lavar as mãos seja em que condição for.
Do seu amigo e pastor,
Wellington Santos