O QUE É MAIS IMPORTANTE?
MARIA ESCOLHEU!
Caminhando Jesus e os seus
discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em
sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a
palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se
dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado
sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude! " Respondeu o Senhor:
"Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia
apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será
tirada". (Lucas 10:38-42)
Esta narrativa foi
lida, historicamente, através do paradigma equivocado da dualidade/oposição e
não complementariedade. A interpretação reducionista e patriarcal das
personagens apresentou Marta e Maria como dois modelos antagônicos, no qual a
escolha de Maria pela escuta de Jesus foi colocada em oposição a escolha de
Marta pela ação. Na interpretação histórica da igreja, Marta e Maria
representam dois modelos de seguimento de Jesus: Marta seria o modelo de
seguimento focado no trabalho e na missão e, Maria seria o modelo de seguimento
focado na escuta, oração e contemplação. Qual o mais importante? Estes dois modelos são realmente antagônicos
ou são complementares? Segundo Luís Carlos Ramos “A escuta da Palavra de Jesus
não tira as pessoas da ação. Pelo contrário, dá novo sentido e orienta para as
adequadas escolhas a respeito do que se deve fazer”.
Lendo o texto, a
partir da realidade na época de Jesus, as mulheres, especialmente, as mulheres
pobres, não tinham direito de escolha na sociedade e religião patriarcal, onde
os papéis e lugares eram escolhidos e impostos a elas, restringindo-as ao
espaço privado da casa. O movimento de Jesus subverte a ordem patriarcal quando
oferece as mulheres a possibilidade da ESCOLHA. É nesse contexto que se deve
interpretar as palavras de Jesus, quando adverte: “Marta! Marta! Você está
preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria
ESCOLHEU a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lucas 10:42). Enquanto Marta agiu de acordo com os papéis
impostos pela cultura, Maria, compreendendo a “boa nova” de libertação trazida por
Jesus às mulheres fez sua ESCOLHA na contramão da cultura patriarcal religiosa.
O Evangelho de Lucas,
escrito em torno do ano de 85 d.C., trouxe à lembrança da comunidade cristã essa
narrativa para provocar suas escolhas, a escolha que estava sendo feita pelos
líderes da Igreja, e não a escolha individual das mulheres. Neste período
quando foi escrito o Evangelho de Lucas, as comunidades cristãs passavam por um
processo de institucionalização e patriarcalização, abandonando a proposta
igualitária do movimento de Jesus, excluindo as mulheres do ministério da profecia,
restringindo sua atuação na comunidade ao ministério da diaconia (serviço).
Restabelecendo a ordem patriarcal da desigualdade, contrariando o modelo
igualitário proposto em Gálatas 3:27-28: “pois os que em Cristo foram
batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre,
homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.”
Portanto, o texto
de Marta e Maria rompe com a leitura dualista e simplista que coloca em
oposição Marta e Maria, a Ação e a Missão, nos lembrando que ambas são
importantes e complementares. Nos lembra ainda que como discípulas e discípulos
do Reino de Deus temos ESCOLHA, e que nossas escolhas individuais afetam nossa
vida comunitária, porque somos um só corpo. Assim, como na época de Jesus, nós,
enquanto pessoas e comunidade no seguimento de Jesus, vamos perdendo a
capacidade de fazer as escolhas coerentes com o Evangelho que cremos e
pregamos. Reflitamos, portanto, sobre nossas ESCOLHAS. Vivemos em tempos em que
“as coisas urgentes se tornaram inimigas das coisas importantes”. É hora de nos sentarmos aos pés de Jesus e na
escuta de suas palavras e ensinos, discernirmos melhor nossas escolhas pessoais
e comunitárias.
Pastora Odja Barros